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Fenômeno de Ashman


O fenômeno de Ashman é um tipo de condução aberrante que ocorre depois de um intervalo R-R curto precedido de um intervalo R-R longo.

É uma aberrância fisiológica e, embora é mais frequente na fibrilação atrial, também se observa na taquicardia atrial ou após extrassístoles supraventriculares.

Foi descrito por Gouaux y Ashman em 1947 ao observar que quando um ciclo cardíaco relativamente longo é seguido de um ciclo cardíaco relativamente curto, o QRS do ciclo curto tem morfologia de bloqueio do ramo direito 1.

É frequente confundir o fenômeno de Ashman com as extrassístoles ventriculares, já que se observa no ECG como um batimento de QRS largo isolado em uma fibrilação atrial com QRS estreitos.

É quase a única causa de complexos QRS largos isolados causados pela condução aberrante 2.

Mecanismo do fenômeno de Ashman

O fenômeno de Ashman se produz por um prolongamento do período refratário do sistema de condução ventricular provocado por um intervalo R-R longo do batimento precedente.

Quando um estímulo supraventricular prematuro atinge ao feixe de His pode encontrar a um dos ramos em período refratário e, por tanto, somente ser conduzido aos ventrículos pelo outro ramo. Isto provoca no eletrocardiograma um complexo QRS com morfologia de bloqueio de ramo3.

Como o período refratário do ramo direito é maior que o do ramo esquerdo, é mais frequente observar morfologia de bloqueio do ramo direito que pode ser associado a bloqueios divisionais esquerdos 4.

Eletrocardiograma do fenômeno de Ashman

Eletrocardiograma do Fenômeno de Ashman

Fenômeno de Ashman:
Complexo QRS largo (setas vermelhas) após um intervalo R-R curto precedido por um intervalo R-R longo

O fenômeno de Ashman se observa no eletrocardiograma como um complexo QRS largo após um intervalo R-R curto precedido de um intervalo R-R longo.

O QRS tem uma morfologia de bloqueio de ramo, mais frequente de bloqueio do ramo direito.

Eletrocardiograma do fenômeno de Ashman

  • Um intervalo R-R relativamente longo seguido de um intervalo R-R curto que termina com um complexo QRS aberrante.
  • Uma combinação de intervalos R-R curto-longo-curto é ainda mais provável que produza aberrância 4.
  • Frequentemente se observa como bloqueio do ramo direito, mas também como bloqueio do ramo esquerdo, inclusive se podem observar ambos no mesmo paciente.
  • Pode existir variação no grau de aberrância  2.
  • Podem existir vários complexos QRS largos consecutivos pela perpetuação da aberrância 4.
  • Acoplamentos irregulares dos QRS aberrantes.
  • Ausência de pausa compensatória (frequente nas extrassístoles ventriculares).

Como diferenciar o fenômeno de Ashman das extrassístoles ventriculares

A presença da sequência de um intervalo R-R longo seguido de um intervalo R-R curto que termina no batimento com QRS largo e, sobretudo a sequência de intervalos R-R curto-longo-curto, favorece o diagnóstico do fenômeno de Ashman.

A ausência desta sequência descarta o fenômeno de Ashman e, portanto, a aberrância.

Fenômeno de Ashman no Eletrocardiograma

Fenômeno de Ashman:
Fibrilação atrial a 84 bpm. O QRS número 10 tem uma condução aberrante após uma combinação de intervalos R-R curto-longo-curto.

Se o QRS largo é precedido por uma onda P indica um origem supraventricular.

Um acoplamento regular favorece o diagnóstico das extrassístoles ventriculares.

A presença de pausa compensatória é indicativa de extrassístoles ventriculares, enquanto a ausência é mais indicativa de condução aberrante.

O polimorfismo dos QRS largos, sobretudo se são diferentes formas de bloqueio do ramo direito, favorece mais ao diagnóstico do fenômeno de Ashman 2.


Tratamento do fenômeno de Ashman

O fenômeno de Ashman no causa sintomas e no precisa tratamento.

O seu principal significado clínico é que nos revela no ECG um distúrbio do ritmo cardíaco que produz flutuação na frequência cardíaca.

É o distúrbio do ritmo cardíaco o que pode necessitar tratamento médico e produzir sintomas 5.


Resumo:

O fenômeno de Ashman é um tipo fisiológico de condução aberrante que se observa sobretudo na fibrilação atrial, causado por uma variação súbita do ciclo cardíaco que provoca um bloqueio de uma rama do feixe de His.

No eletrocardiograma se observa como un complexo QRS largo isolado após um intervalo R-R curto precedido de um intervalo R-R longo. A morfologia mais frequente do QRS é de bloqueio do ramo direito.

É um erro comum confundir o fenômeno de Ashman com as extrassístoles ventriculares.

Seu diagnóstico está baseado na detecção de um intervalo R-R longo seguido de um R-R curto que termina em um QRS aberrante sen pausa compensatória.

Esperamos que este artigo lhe ajude a reconhecer o fenômeno de Ashman en um eletrocardiograma.

Referências

  • 1. Gouaux JL, Ashman R. Auricular fibrillation with aberration simulating ventricular paroxysmal tachycardia. Am Heart J. 1947 Sep;34(3):366-73. doi: 10.1016/0002-8703(47)90487-0.
  • 2. Surawicz B, Knilans TK. Chou’s electrocardiography in clinical practice, 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2008.
  • 3. Gaztañaga L, Marchlinski FE, Betensky BP. Mecanismos de las arritmias cardiacas. Rev Esp Cardiol. 2012;65:174-85. doi: 10.1016/j.recesp.2011.09.018.
  • 4. Fisch C. Electrocardiography of arrhythmias: from deductive analysis to laboratory confirmation--twenty-five years of progress. J Am Coll Cardiol. 1983 Jan. 1(1):306-16. doi:  10.1016/S0735-1097(83)80031-X.
  • 5. Alraies MCh, Eisa N et al. The Long and Short of It: Ashman’s Phenomenon. Am J Med. 2013 Nov;126(11):962-3. doi: 10.1016/j.amjmed.2013.07.002.

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