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Como Ler um Eletrocardiograma Pediátrico


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Como Ler um ECG Pediátrico

Imagem cortesia de Serge Bertasius Photography / FreeDigitalPhotos.net

Em crianças, o eletrocardiograma não é usado com tanta frequência como nos adultos, mas tem uma importância fundamental no estudo das cardiopatias congênitas e das arritmias cardíacas na faixa etária pediátrica.

Ao interpretar um ECG pediátrico, devemos seguir uma sequência similar a quando interpretamos um eletrocardiograma de um adulto (veija como ler um ECG), mas levando em conta as diferenças relacionadas com a idade da criança (veija ECG pediátrico).


Como ler um eletrocardiograma de uma criança

Diferente do adulto, a primeira coisa que devemos saber em um eletrocardiograma de uma criança é sua idade, pois o ECG normal de um recém nascido apresenta características que podem ser consideradas patológicas em uma criança de 10 anos.

Posteriormente, devemos estar seguros que o ECG foi bem realizado, constatando que a velocidade e a amplitude do ECG sejam as adequadas, que haja traçado legível em todas as derivações ou que o eletrocardiograma tenha artefatos demais.

Em caso de dúvida, se deve repetir o ECG se for possível.

Da mesma forma que no adulto, recomendamos seguir sempre uma mesma sequência, para nada passar despercebido.

Sequência para ler um ECG pediátrico

  • 1. Cálculo da frequência cardíaca.
  • 2. Análise do ritmo cardíaco.
  • 3. Cálculo do intervalo PR.
  • 4. Cálculo do intervalo QT.
  • 5. Eixo elétrico
  • 6. Alterações do segmento ST.
  • 7. Outras alterações eletrocardiográficas.

1. Frequência cardíaca

É a primeira coisa que você deve determinar em todo eletrocardiograma. A forma mais simples de calculá-la é medir a quantidade de quadrados grandes entre dois QRS e dividir 300 entre o número de quadrados: 150 bpm se houver dois quadrados, 100 bpm se houver três quadrados, 75 bpm se houver quatro.

Isto funciona sempre que os batimentos são rítmicos.

Veja em nosso artigo "Como determinar a frequência cardíaca" por outros métodos de cálculo.

Lembre que os valores normais da frequência cardíaca em uma criança são diferentes em cada idade. Fazendo um breve resumo:

Valores normais da frequência cardíaca de um ECG pediátrico:

  • Recém nascido: 90 - 160 bpm.
  • De 1 a 6 meses: 110 - 160 bpm.
  • De 6 meses a 1 ano: 70 - 160 bpm.
  • De 1 a 10 anos: 65 - 140 bpm.
  • De 10 a 15 anos: 60 - 130 bpm.
  • Veja tabela no final.

Também disponibilizamos uma calculadora de frequência cardíaca para que seja mais simples para você ler um ECG.


2. Ritmo cardíaco

Determinar o ritmo cardíaco é um dos passos mais bonitos da análise do eletrocardiograma pediátrico.

Os algoritmos para analisar o ritmo cardíaco são diferentes para um ECG com taquicardia, com FC normal ou com una bradicardia.

Taquicardia

Importante: taquicardia de QRS largo ou estreito?

Uma taquicardia de QRS largo, até que se demonstre o contrário, é uma taquicardia ventricular, ou seja, uma urgência médica.

Revise neste artigo os critérios de taquicardia ventricular.

Se a taquicardia é de QRS estreito (ou de QRS largo e se já foi descartada uma TV), há vários mecanismos para determinar o tipo de taquicardia presente no ECG, quase todos se baseiam na presença ou ausência de onda P, sua morfologia e localização em relação ao QRS, e se a taquiarritmia é regular ou irregular.

A seguir, nomeamos os tipos de taquicardias mais frequentes com una pequena descrição.

  • Taquicardia sinusal: a mais frequente, ondas P sinusais antes de todos os QRS.
  • Taquicardia atrial: similar à sinusal mas com ondas P ectópicas.
  • Taquicardias supraventriculares: a mais frequente em crianças é a taquicardia ortodrômica por via acessória (veja síndrome de Wolf-Parkinson-White), mas também se observa a taquicardia intranodal.
  • Flutter atrial: taquicardia regular onde se podem observar as “ondas em dente de serra". É uma arritmia rara em crianças com corações normais, mas se pode observar em pacientes com cardiopatias congênitas ou pós-operados de cirurgia cardíaca (veja flutter atrial).
  • Fibrilação atrial: taquicardia irregular, sem ondas P visíveis, não é habitual observá-la em crianças com corações normais (veja fibrilação atrial).

Frequência cardíaca normal

O método para determinar o ritmo cardíaco em um ECG pediátrico com FC normal é diferente de quando existe una taquicardia.

Em geral, nos baseamos na presença ou ausência de onda P, se a onda P é ou não sempre conduzida para os ventrículos.

são ou não conduzidas para os ventrículos.

Da mesma forma que nas taquicardias, descrevemos abaixo as características de cada ritmo para que o diagnóstico seja mais preciso.

  • Ritmo sinusal: ritmo normal do coração, ondas P sinusais seguidas sempre de QRS (veja ritmo sinusal).
  • Arritmia sinusal: é frequentemente observada nas crianças. Similar ao ritmo sinusal mas com variação da frequência cardíaca com a respiração (ECG arrítmico). é uma variante da normalidade (veja arritmia sinusal).
  • Ritmo atrial ectópico: ondas P ectópicas, resto similar ao ritmo sinusal.
  • Marca-passo atrial migratório: alternância de ondas P sinusais com ondas P ectópicas. Pode-se observar em crianças, não representa patologia.
  • Bloqueio AV de primeiro grau: presença de intervalo PR alargado. Pode ser normal em crianças por aumento do tono vagal (veija bloqueio AV de primeiro grau).
  • Bloqueio AV de segundo grau tipo I: alargamento do intervalo PR até que uma onda P não conduza. Pode ser normal em crianças por aumento do tono vagal (veija bloqueios AV de segundo grau).
  • Bloqueio AV de segundo grau tipo II: ondas P não conduzidas com intervalos PR anteriores constantes (veija bloqueios AV de segundo grau).
  • Bloqueio AV completo (terceiro grau): dissociação AV. As ondas P e os QRS não guardam relação entre eles (veija bloqueios AV completo).
  • Flutter atrial: ritmo regular onde se podem observar as “ondas em dente de serra". É uma arritmia rara em crianças (veja flutter atrial).
  • Fibrilação atrial: também é uma arritmia rara em crianças, se observa como um ritmo irregular com ausência de ondas P (veja fibrilação atrial).
  • Ritmo da união AV: batimentos rítmicos originados no nó AV. Ausência de ondas P ou presença de ondas P retrógradas (negativas nas derivações inferiores, inscritas no QRS ou no ST). Pode aparecer por aumento de tono vagal.

Bradicardia

Determinar o ritmo das bradicardias é um processo similar a quando a FC é normal, com a exceção das bradicardias com ausência de onda P.

Bradicardia com ondas P:

  • Bradicardia sinusal e arritmia sinusal lenta: semelhante ao ritmo sinusal e à arritmia sinusal. Com FC muito baixas ou intervalos P-P muito prolongados se deve suspeitar de doença do nó sinusal.
  • Bloqueios AV: similar ao descrito previamente.

Bradicardia com ausência de ondas P:

  • Fibrilação atrial lenta: é irregular com mínima atividade atrial.
  • Flutter atrial lento ou com bloqueio AV completo: se observam as ondas F “em dente de serra” com bastante claridade pela distância entre os QRS.
  • Doença do nodo sinusal com ritmo de escape do nodo AV: ritmo regular lento, pode haver ondas P retrógradas (negativas em derivações inferiores, inscritas no QRS ou no ST).
  • Ritmo da união AV: similar ao anterior em todos os aspectos, exceto que neste caso o ritmo se inicia espontaneamente no nodo AV ou secundário a FC muito baixas.
  • Fibrilação atrial com bloqueio AV completo: FA com ritmo regular, se diferencia das anteriores pelas ondas f (atividade atrial variável) e por não apresentar ondas P retrógradas, apesar de às vezes ser impossível diferenciá-la.

3. Intervalo PR

Artigo relacionado: Intervalo PR.

Uma vez determinado o ritmo cardíaco, é preciso calcular o intervalo PR.

As alterações do intervalo PR nos permitem diagnosticar o bloqueio AV de primeiro grau (se pode observar em crianças, sem significado clínico) se está alargado, ou a presença de via acessória se está diminuído e se acompanhado de onda delta (síndrome de Wolf-Parkinson-White).

Valores normais do intervalo PR em um ECG pediátrico:

  • 0 a 6 meses: 80 - 150 ms.
  • 6 a 12 meses: 50 - 150 ms.
  • 1 a 10 anos: 80 - 150 ms.
  • 10 a 15 anos: 90 - 180 ms.
  • Adultos: 120 - 200 ms.
  • Veja tabela no final.

Mais informação em: Intervalo PR.


4. Intervalo QT (corrigido)

Artigo relacionado: Intervalo QT.

Após calcular o intervalo PR, se deve calcular o intervalo QT.

Um alargamento do intervalo QT na faixa etária pediátrica pode nos ajudar a diagnosticar a síndrome de QT largo congênito. Também pode ser secundário ao uso de alguns fármacos.

Lembramos que o intervalo QT varia dependendo da frequência cardíaca, por isso se deve ajustar os valores com uma fórmula que vamos te mostrar (calcular o intervalo QT corrigido). Em crianças, o intervalo QT corrigido ou QTc é normal entre 350 ms e 450 ms (veja intervalo QT).

Mais informação em: Intervalo QT.


5. Eixo elétrico cardíaco

É um dos passos da análise do eletrocardiograma costuma dar mais trabalho. Há vários métodos para determinar o eixo que resumimos neste artículo.

No ECG pediátrico, você deve se lembrar que, quando determinar o eixo elétrico, deve revisar os valores normais para a idade do paciente, pois eles são completamente distintos em cada faixa de idade.

Valores normais do eixo elétrico de um ECG pediátrico:

  • Recém nascido: 70º a 180º.
  • De 8 a 30 dias: 45º a 160º.
  • De 1 a 6 meses: 10º a 120º.
  • De 6 meses a 1 ano: 10º a 110º.
  • De 1 a 15 anos: 5º a 110º.
  • Adulto: -30º a 90º.
  • Veja tabela no final.

6. Alterações do segmento ST

As variações do segmento ST em uma criança saudável são raras. O achado mais frequente é a repolarização precoce, considerada um padrão dentro da normalidade (veja repolarização precoce).

Algumas patologias como a pericardite ou miocardite podem provocar supradesnivelamento do segmento ST na infância. A cardiopatia isquêmica é muito rara em crianças, mas quando ocorre apresenta alterações elétricas similares às de um adulto (veja alterações do segmento ST).


7. Avaliar o resto das ondas e intervalos

O passo final da análise do eletrocardiograma pediátrico é calcular cada uma das ondas e intervalos que não se calculou anteriormente.

Lembre-se de que em uma criança, a morfologia dos complexos QRS varia com a idade, e também há variação na onda T e os intervalos vão aumentando de duração à medida que passam os anos.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a interpretar o eletrocardiograma pediátrico e, para facilitar seu trabalho, resumimos os valores normais do ECG em crianças de acordo com a idade.

Valores normais de um eletrocardiograma pediátrico

Edad 0-7 dias 8-30 dias 1-6 meses 6-12 meses 1-5 anos 5-10 anos 10-15 anos adulto
FC (bpm) 90 a 160 100 a 175 110 a 180 70 a 160 65 a 140 65 a 140 60 a 130 60 a 100
PR (ms) 80 a 150 50 a 150 80 a 150 90 a 180 100 a 200
Eje (º) 70 a 180 45 a 160 10 a 120 10 a 110 5 a 110
QRS (ms) 40 a 70 45 a 80 50 a 90 60 a 90
QRS V1 (mV)
Q Não deve haver onda Q
R 0,5 a 2,5 0,3 a 2,0 0,3 a 2,0 0,2 a 2,0 0,2 a 1,8 0,1 a 1,5 0,1 a 1,2 0,1 a 0,6
S 0 a 2,2 0 a 1,6 0 a 1,5 0,1 a 2,0 0,3 a 2,1 0,3 a 2,2 0,3 a 1,3
T -0,3 a 0,3 -0,6 a -0,1 -0,6 a 2 -0,4 a 0,3 -0,2 a 0,2
QRS V6 (mV)
Q 0 a 0,2 0 a 0,3 0 a 0,4 0 a 0,3 0 a 0,2
R 0,1 a 1,2 0,1 a 1,7 0,3 a 2,0 0,5 a 2,2 0,6 a 2,2 0,8 a 2,5 0,8 a 2,4 0,5 a 1,8
S 0 a 0,9 0 a 0,7 0 a 0,6 0 a 0,4 0 a 0,2

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