Desvio do eixo à esquerda
Artigos relacionados: Como calcular o eixo elétrico, desvio do eixo à direita.
O eixo QRS normal em adultos está entre -30° e 90°, considera-se que há desvio do eixo para a esquerda quando está entre -30° e -90° 1.
O desvio moderado do eixo para a esquerda situa-se entre -30° e -45° e o desvio marcado do eixo para a esquerda situa-se entre -45° e -90°, o que é frequentemente associado ao bloqueio divisional anterior 2.
As situações em que o desvio do eixo à esquerda pode ser observado são as seguintes:
Causas do desvio do eixo à esquerda
Variantes da normalidade
O eixo do QRS tende a se desviar para a esquerda com o aumento da idade. O desvio à esquerda do eixo do QRS com a idade é especialmente prevalente em pessoas com sobrepeso e é mais pronunciado em homens idosos e obesos do que em mulheres idosas e obesas 3.
Existe uma associação entre o eixo do QRS e o peso corporal, as pessoas com excesso de peso tendem a ter um eixo mais à esquerda.
A maioria dos pacientes obesos sem doença cardíaca clínica tem ECG normal com um eixo cardíaco que vai se deslocando para a esquerda à medida que a obesidade aumenta 3.
Hipertrofia do ventrículo esquerdo
Artigo relacionado: Hipertrofia do ventrículo esquerdo.
Nos pacientes com hipertrofia ventricular esquerda (HVE), o eixo do QRS pode estar normal (mas entre 0º e -30º) ou desviado para a esquerda 2.
O achado mais frequente de HVE no ECG são as ondas R altas nas derivações precordiais esquerdas e as ondas S profundas nas derivações precordiais direitas (V1-V2). Há também um aumento na duração do complexo QRS, maior que 100 ms.
É comum encontrar depressão do segmento ST e ondas T negativas nas derivações laterais (D1, aVL, V5 ou V6).
Sinais de sobrecarga atrial esquerda com ondas P largas (P mitrale) podem ser vistos nas derivações inferiores e laterais.
Mais informações em: Hipertrofia do ventrículo esquerdo.
Bloqueio divisional anterior
Artigo relacionado: Bloqueios divisionais esquerdos.
No bloqueio divisional anterior há um atraso na ativação da região anterior do ventrículo esquerdo, o que causa um acentuado desvio do eixo para a esquerda (eixo do QRS entre -45º e -90º), sem um alargamento do complexo QRS.
Também produz uma morfologia de rS nas derivações D2, D3 e aVF, e uma morfologia de qR nas derivações D1 e aVL 2.
Mais informações em: Bloqueios divisionais esquerdos.
Bloqueio do ramo esquerdo
Artigo relacionado: Bloqueio do ramo esquerdo.
No bloqueio do ramo esquerdo a duração do complexo QRS é superior ou igual a 120 ms em adultos, com uma onda R larga com entalhes ou empastamientos nas derivações D1, aVL, V5 e V6.
O segmento ST e as ondas T frequentemente são opostos à direção do complejo QRS.
A ocorrência de um bloqueio do ramo esquerdo pode alterar o eixo do QRS no plano frontal, para a direita, para a esquerda ou no sentido superior. Em alguns casos, esta alteração depende da frequência cardíaca 3.
Mais informações em: Bloqueios divisionais esquerdos.
Infarto do miocárdio de parede inferior
O infarto da parede inferior é outra alteração que pode produzir um desvio anormal do eixo para a esquerda.
Em um infarto inferior as forças iniciais do complexo QRS dirigem-se superiormente, causando uma onda Q nas derivações D2, D3 e aVF.
Ondas T negativas nas derivações inferiores (D2, D3 e aVF) também podem estar presentes em pacientes com infarto inferior.
Hipercalemia
Artigo relacionado: Hipercalemia no ECG.
A elevação da concentração de potássio no plasma maior que 6,5 mEq/L despolarizará parcialmente a membrana celular, causando alterações na geração e transmissão do estímulo.
O desvio do eixo para a esquerda que ocorre na hipercalemia é devido ao atraso da condução intraventricular, que causa o alargamento progressivo do complexo QRS.
Há também um aumento na duração e uma diminuição na amplitude da onda P, além de outras alterações, como bloqueios AV, doença do nó sinusal ou ritmo juncional.
Mais informações em: Hipercalemia no ECG.
Enfisema
A hiperexpansão dos pulmões causa compressão externa do coração e descida do diafragma, com o consequente alongamento e orientação vertical do coração.
Além disso, a presença de mais ar entre o coração e os eletrodos reduz a amplitude dos complexos QRS nas derivações precordiais.
A baixa voltagem nas derivações dos membros, o desvio do eixo para a direita (>90º) ou para a esquerda (mais de -30º), combinado com um eixo da onda P >60º, é descrito como patognomônico para o enfisema 4.
Outras causas de desvio do eixo à esquerda
Alterações do eixo cardíaco raramente são específicas no diagnóstico de cardiopatia congênita. A comunicação interatrial do tipo ostium primum e o canal atrioventricular podem causar desvio do eixo para a esquerda 5.
O desvio do eixo para a esquerda também pode ser visto em altos graus de pré-excitação, na taquicardia ventricular, durante a expiração, gravidez, ascite, etc.
Referências
- 1. Surawicz B, Deal BJ et al. AHA/ACCF/HRS Recommendations for the Standardization and Interpretation of the Electrocardiogram Part III: Intraventricular Conduction Disturbances. Journal of the American College of Cardiology Mar 2009, 53 (11) 976-981; DOI: 10.1016/j.jacc.2008.12.013.
- 2. Kashou AH, Kashou HE. Electrical Axis (Normal, Right Axis Deviation, and Left Axis Deviation) [Updated 2018 Oct 27]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2019 Jan
- 3. Surawicz B, Knilans TK. Chou’s electrocardiography in clinical practice, 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2008.
- 4. Larssen MS, Steine K, Hilde JM, et al. Mechanisms of ECG signs in chronic obstructive pulmonary disease. Open Heart 2017;4:e000552. DOI: 10.1136/openhrt-2016-000552.
- 5. O'Connor M, McDaniel N, Brady WJ. The pediatric electrocardiogram Part III: Congenital heart disease and other cardiac syndromes. Am J Emerg Med. 2008 May;26(4):497-503. DOI: 10.1016/j.ajem.2007.08.004.
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