Bloqueios bifasciculares
Até 15% da população pode ter um bloqueio bifascicular no eletrocardiograma.
Esta alteração é uma combinação de distúrbios do sistema de condução intraventricular, que pode acarretar riscos de progressão a bloqueio AV completo, especialmente em pacientes com síncope 1.
As 2009 AHA/ACCF/HRS Recommendations for the Standardization and Interpretation of the Electrocardiogram 1 não recomendam o termo “bloqueio bifascicular”, dada a grande variedade de patologias ou alterações anatômicas que podem produzir este padrão. A comissão recomenda que cada distúrbio de condução seja descrito separadamente, dependendo das estruturas afetadas 1.
Anatomia do bloqueio bifascicular
Condução intraventricular
- 1- Nó atrioventricular e feixe de His
- 2- Ramo direito
- 3- Ramo esquerdo
- 4- Fascículo anterior
- 5- Fascículo posterior
Podemos classificar o sistema de condução ventricular como um sistema de três fascículos, composto pelo ramo direito e os fascículos anterior e posterior do ramo esquerdo.
Qualquer combinação de bloqueio de dois desses ramos, denomina-se bloqueio bifascicular.
Tipos de bloqueios bifasciculares
- Bloqueio do ramo direito + bloqueo do fascículo anterior.
- Bloqueio do ramo direito + bloqueo do fascículo posterior.
- Bloqueio completo do ramo esquerdo: equivalente ao bloqueio dos dois fascículos.
Os bloqueios bifasciculares têm no ECG as características do bloqueio do ramo direito combinadas com as do bloqueio divisional correspondente.
Lembre-se que os bloqueios divisionais esquerdos também são chamados hemibloqueios esquerdos.
Bloqueio do ramo direito com bloqueio divisional anterossuperior
É o mais comum dos bloqueios bifasciculares. Há um bloqueio do ramo direito e do fascículo anterior, de modo que a despolarização dos ventrículos se realiza a partir do fascículo posterior do ramo esquerdo.
Bloqueio do ramo direito e hemibloqueio anterior
- 1. Ramo direito bloqueado.
- 2. Fascículo anterior bloqueado.
- 3. Fascículo posterior normal.
Características de um ECG com bloqueio do ramo direito e bloqueio divisional anterior:
Bloqueio do ramo direito com bloqueio divisional posteroinferior
Há um bloqueio do ramo direito e do fascículo posterior, de modo que a despolarização dos ventrículos se realiza a partir do fascículo anterior do ramo esquerdo.
Bloqueio do ramo direito e hemibloqueio posterior
- 1. Ramo direito bloqueado.
- 2. Fascículo anterior normal.
- 3. Fascículo posterior bloqueado.
Características de um eletrocardiograma com bloqueio do ramo direito e bloqueio divisional posterior:
Bloqueios bifasciculares e bloqueio AV completo
Em pacientes com bloqueio bifascicular no eletrocardiograma e síncope ou pré-síncope, há a possibilidade de que os sintomas sejam secundários a um bloqueio atrioventricular de terceiro grau não diagnosticado.
Nestes pacientes se deve realizar um estudo cardiológico mais complexo. Em alguns casos é aconselhável realizar um estudo eletrofisiológico para estimar o intervalo Hiss-ventricular (HV).
Em pacientes com bloqueio bifascicular no eletrocardiográma sem sintomas, o risco de bloqueio atrioventricular completo é baixo, mas recomenda-se monitorização clínica e eletrocardiográfica.
Tratamento do bloqueio bifascicular
Os bloqueios bifasciculares não necessitam de tratamento, a menos que o paciente tenha síncopes.
O implante de marcapasso definitivo está indicado se existe bloqueio AV completo ou bloqueio AV de segundo grau tipo II. Também o implante de marcapasso definitivo é razoável para pacientes com síncope e bloqueio bifascicular quando outras causas prováveis foram excluídas 2.
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Referências
- 1. Surawicz B, Deal BJ et al. AHA/ACCF/HRS Recommendations for the Standardization and Interpretation of the Electrocardiogram Part III: Intraventricular Conduction Disturbances. Circulation. 2009; 119: e235-e240. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.108.191095.
- 2. Epstein AE, DiMarco JP, Ellenbogen KA. ACC/AHA/HRS 2008 Guidelines for Device-Based Therapy of Cardiac Rhythm Abnormalities. A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2008; 117: e350-e408. doi: 10.1161/CIRCUALTIONAHA.108.189741.
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