Taquicardias Supraventriculares
As taquicardias supraventriculares (TSV) são um grupo de perturbações do ritmo cardíaco, em que, pelo menos uma estrutura localizada acima do feixe de His é necessária para a sua manutenção.
As taquicardias supraventriculares incluem diferentes doenças, as mais comum são a taquicardia reentrante nodal e a taquicardia de reentrada atrioventricular por via acessória. Também estão incluídas neste artigo a taquicardia atrial e a taquicardia sinusal inapropriada, arritmias mais raras.
As taquicardias supraventriculares se caracterizam no ECG por ser taquicardias regulares com complexos QRS estreitos e frequências cardíacas altas.
Embora menos frequente, há taquicardias supraventriculares com QRS largo, como a taquicardia antidrômica por via acessória, quando existe um bloqueio de ramo ou condução aberrante (fenômeno de Ashman).
Por conceito, a fibrilação atrial e o flutter atrial são taquicardias supraventriculares, mas preferimos estudá-los individualmente em outros artigos..
Taquicardia por reentrada nodal (TRN)
Artigo relacionado: Taquicardia por reentrada nodal.
A taquicardia por reentrada nodal ou taquicardia reentrante nodal AV é a taquicardias supraventricular paroxística mais comun em corações saudáveis, quase um 60% das mesmas. É observada, especialmente, em mulheres na quarta década de vida.
É causada pela presença de duas vias de condução no nó AV, uma rápida e uma lenta, que, depois de uma extra-sístole atrial, geram um mecanismo de reentrada que perpetua a taquicardia.
Taquicardia por reentrada nodal:
Taquicardia regular de complexos QRS estreitos a 188 bpm.
Do ponto de vista eletrofisiológico, distinguem-se duas formas de taquicardia por reentrada nodal, lenta-rápida (comum) e rápida-lenta (incomum).
O eletrocardiograma da taquicardia por reentrada nodal se caracteriza por:
- Taquicardia regular com complexos QRS estreitos e FC entre 120 e 250 bpm.
- Forma comum: ausência de ondas P ou imagem de falsa onda r' em V1 e falsas ondas S nas derivações inferiores (ondas P inseridas no complexos QRS).
- Forma incomum: ondas P negativas imediatamente após dos complexos QRS (antes da onda T) nas derivações inferiores.
Ao ser uma taquicardia supraventricular donde participa o nó AV, é habitual a sua interrupção com manobras vagais ou administração intravenosa de adenosina.
A administração de adenosina intravenosa deve ser realizada por equipe médica experiente e com monitoramento de pacientes.
O tratamento definitivo da taquicardia por reentrada nodal é a ablação por cateter da via lenta.
Mais informação em: Taquicardia por reentrada nodal.
Taquicardia por vía acessória
Cerca de um terço dos pacientes diagnosticados com pré-excitação num eletrocardiograma podem apresentar taquicardia supraventricular associada com á vía acessória 1.
Nestas taquicardias se produz um mecanismo de macrorreentrada onde participam os átrios, o sistema de condução, os ventrículos e a via acessória. O estimulo elétrico é conduzido de forma contínua por estas estruturas perpetuando a taquicardia.
Dependendo por onde desça e ascenda o estímulo, se darão dois padrões eletrocardiográficos muito diferentes:
Taquicardia ortodrômica por vía acessória:
O estímulo desce aos ventrículos pelo sistema de condução (nó AV, feixe de His) e ascende aos átrios pela via acessória. Como os ventrículos são estimulados pelo sistema de condução, o complexo QRS e estreito.
Taquicardia ortodrômica a 250 bpm:
Taquicardia de QRS estreito. Em vermelho as ondas P atrás do QRS.
Características do eletrocardiograma da taquicardia ortodrômica:
- Taquicardia de QRS estreito com frequência cardíaca entre 200 e 300 bpm.
- Se podem observar ondas P não sinusais posterior ao complexo QRS.
Taquicardia antidrômica por vía acessória:
O estímulo desce aos ventrículos, pela via acessória, e ascende aos átrios pelo sistema de condução. Como a despolarização ventricular é realizada inteiramente através do via acessória, o QRS é alargado.
A taquicardia antidrômica por via acessória é uma taquicardia supraventriculare de QRS largo.
Características do eletrocardiograma da taquicardia antidrômica:
- Taquicardia de QRS largo con frequência cardíaca entre 200 e 300 bpm
- Sem um eletrocardiograma prévio em ritmo sinusal com preexitación, é difícil diferenciá-la de uma taquicardia ventricular.
Taquicardia atrial
A taquicardia atrial é uma taquicardia supraventricular pouco comum na clínica. Como o próprio nome sugere, origina-se no músculo atrial e não requer do nó atrioventricular nem dos ventrículos para sua manutenção.
A frequência cardíaca na taquicardia atrial depende da capacidade de condução do nó atrioventricular, podendo existir condução átrio-ventricular 1:1, 2:1, 3:1, etc.
Taquicardia atrial:
Taquicardia a 125 bpm com ondas P ectópicas (negativas em D2)
A taquicardia atrial se caracteriza no eletrocardiograma por:
- Ondas P bem definidas, com frequências cardíacas que variam entre 100 e 240 bpm.
- As ondas P têm diferente morfologia e eixo elétrico das ondas P sinusais.
- As ondas P estão, geralmente, mais perto dos seguintes QRS que dos anteriorers (intervalo PR menor do que RP).
- QRS estreito, a menos que exista bloqueio de ramo ou condução aberrante.
Em caso de dúvida diagnóstica, especialmente com frequências cardíacas altas, onde é difícil distinguir as ondas P, realizar manobras vagais ou administrar adenosina intravenosa pode causar bloqueio AV transitório, permitindo que sejam observadas as ondas P ocultas da taquicardia atrial.
Ao contrário das taquicardias supraventriculares onde o nó AV participa, na taquicardia atrial não é habitual que a adenosina interrompa a arritmia.
Extrassístoles atriais
As extrassístoles atriais são impulsos elétricos prematuros gerados em outra região dos átrios diferente do nó sinusal.
Se caracterizam no eletrocardiograma pela aparição de ondas P isoladas de morfologia e eixo elétrico diferente das do ritmo sinusal.
Extrassístoles atriais
O intervalo PR, nas extrassístoles atriais, pode ser normal ou prolongado.
A condução AV pode ser normal, ou estar bloqueada se a extrassístole atrial ocorre durante o período refratário do nó AV.
Em alguns eletrocardiogramas, é difícil identificar a onda da extrassístole atrial, porque pode ser incluída dentro da onda T ou do complexo QRS precedente.
As extrassístoles atriais não requerem tratamento, exceto que sejam secundárias a outras patologias ou muito sintomáticas.
Taquicardia sinusal inapropriada
Artigo relacionado: Taquicardia sinusal inapropriada.
A taquicardia sinusal inapropriada é uma taquicardia supraventricular rara, causada por um aumento da frequência cardíaca a nível do nó sinusal em repouso ou com esforços ligeiros.
Taquicardia sinusal a 136 bpm
As características do eletrocardiograma da taquicardia sinusal inapropriada são as da taquicardia sinusal.
É mais comum em mulheres jovens e geralmente é muito sintomática. Seu diagnóstico é feito por exclusão de outras taquicardias supraventriculares, bem como outras causas de taquicardia sinusal.
Mais informação em: Taquicardia sinusal inapropriada.
Resumo das taquicardias supraventriculares
As taquicardias supraventriculares são um grupo de perturbações do ritmo cardíaco que provocam episódios de taquicardias rítmicas de QRS estreito.
Por conceito, para a sua manutenção é necessário que participe, pelo menos, uma estrutura acima do feixe de His.
Têm um prognóstico benigno, embora, geralmente são muito sintomáticas e as recorrências são frequentes.
O tratamento médico com fármacos antiarrítmicos é muitas vezes eficaz, mas, sendo a ablação por cateter um tratamento definitivo com bons resultados, termina sendo o tratamento de eleição.
Esperamos ter podido te ajudar em expandir o seu conhecimento das taquicardias supraventriculares.
Referências
- 1. Almendral J, Castellanos E, Ortiz M. Paroxysmal Supraventricular Tachycardias and Preexcitation Syndromes. Rev Esp Cardiol. 2012;65(5):456-69. doi: 10.1016/j.rec.2011.11.020
- 2. Surawicz B, Knilans TK. Chou’s electrocardiography in clinical practice, 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2008.
- 3. Katritsis DG, Camm AJ. Katritsis DG, Camm AJ. Atrioventricular Nodal Reentrant Tachycardia. Circulation. 2010;122:831-840. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.110.936591
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