Repolarização Precoce
O padrão de repolarização precoce é um achado do eletrocardiograma (ECG) mais frecuente em jovens, masculinos e atletas. Sua característica principal é a elevação da união do QRS com o segmento ST (ponto J).
Durante décadas, a repolarização precoce foi considerado benigna. No entanto, recentemente tem sido sugerido em estudos que pode associar-se a maior risco de arritmias ventriculares e de morte súbita 1 2 3.
Padrão de repolarização precoce no eletrocardiograma
O eletrocardiograma de repolarização precoce é caracterizado por:
- Elevação da união do QRS com o segmento ST (ponto J) ≥0.1 mV em pelo menos duas derivações contíguas.
- Presença de onda J ou entalhe no final do QRS.
- Concavidade superior do segmento ST.
- Ondas T apiculadas.4 5
Eletrocardiograma de repolarização precoce
Onda J, elevação do ponto J e elevação do segmento ST com concavidade superior.
Outras características do electrocardiograma de repolarização precoce:
- Não existe depressão do ST “em espelho” (excepto na derivação aVR).
- Pouca variação em eletrocardiogramas seriados.
Alterações do ponto J na repolarização precoce
O ponto J é o ponto de união do complexo QRS com o segmento ST.
Suas alterações são o sinal mais importante do padrão de repolarização precoce, permitindo realizar o diagnóstico embora não exista elevação do ST.
Onda J
A onda J, também conhecida como onda de Osborn, é uma das denominadas "novas ondas do ECG". É uma onda pequena, positiva e arredondada, que aparece no final do QRS 6.
Sua presença em derivações precordiais esquerdas ou em inferiores é um dos critérios de diagnóstico do padrão de repolarização precoce.
Também se observa na hipotermia, hipercalcemia, aumento do tônus vagal e lesões cerebrais ou medulares 4.
Atraso da condução no final do QRS
A outra alteração do ponto J na repolarização precoce, é o atraso na condução no final do complexo QRS.
Isto provoca um alargamento ou slurring na transição do QRS no segmento ST, sem onda J.
Na ausência destes sinais eletrocardiográficos o diagnóstico de repolarização precoce é duvidoso, ainda que apresente elevação do ST com concavidade superior.
A elevação do segmento ST não é um critério necessário, se pode diagnosticar repolarização precoce ainda que não exista elevação do segmento ST 4.
Significado da repolarização precoce
O achado do padrão de repolarização precoce em um eletrocardiograma foi considerado por décadas um sinal de benignidade.
Contudo, alguns estudos sobre sobreviventes de morte súbita e pacientes com fibrilação ventricular primária sugeriram uma associação entre repolarização precoce e risco de fibrilação ventricular 1 3.
Tipos de repolarização precoce
Antzelevitch et al.6 propõem dividir o padrão de repolarização precoce em três subtipos (quatro, se for incluído a síndrome de Brugada):
O Tipo 1 é frequente em pessoas saudáveis e em atletas masculinos, está associado a baixo risco arrítmico.
O Tipo 2 está associado a um risco arrítmico moderado, este tipo foi encontrado em pacientes depois de uma fibrilação ventricular Idiopática, embora pode encontrar-se em jovens.
O Tipo 3 é o tipo de maior risco de apresentar arritmias ventriculares e está associado a tempestades de fibrilação ventricular 6.
Contudo, até à data não existem dados que sustentem uma associação entre repolarização inferior precoce e morte cardíaca súbita em atletas 7.
Tratamento da repolarização precoce
Com base nas provas actuais, todos os padrões de repolarização precoce no electrocardiograma, quando presentes isoladamente e sem marcadores clínicos de patologia, devem ser considerados variantes benignas nos atletas e não requerem avaliação adicional 7 8.
Não se recomenda a interrupção da prática desportiva em atletas 7.
Pelo contrário, a presença do padrão de repolarização precoce em pacientes sobreviventes de uma parada cardíaca secundária a fibrilação ventricular Idiopática é indicação de cardioversor desfibrilador implantável; embora teria a mesma indicação na ausência de repolarização precoce.
Referências
- 1. Haïssaguerre M, Derval N, et al. Sudden cardiac arrest associated with early repolarization. N Engl J Med. 2008;358:2016–2023. doi: 10.1056/NEJMoa071968.
- 2. Nam GB, Kim YH, Antzelevitch C. Augmentation of J waves and electrical storms in patients with early repolarization. N Engl J Med. 2008;358:2078–2079. doi: 10.1056/NEJMc0708182.
- 3. Rosso R, Kogan E, Belhassen B, et al. J-point elevation in survivors of primary ventricular fibrillation and matched control subjects: incidence and clinical significance. J Am Coll Cardiol. 2008;52:1231–1238. doi: 10.1016/j.jacc.2008.07.010.
- 4. Derval N, Sha A, Jaïs P. Definition of Early Repolarization: A Tug of War. Circulation. 2011; 124: 2185-2186. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.111.064063.
- 5. Macfarlane PW, Antzelevitch C, Haissaguerre M, et al. The Early Repolarization Pattern: A Consensus Paper. J Am Coll Cardiol. 2015;66(4):470-477. doi: 10.1016/j.jacc.2015.05.033.
- 6. Antzelevitch C, Yan GX. J wave syndromes. Heart Rhythm 2010; 7: 549–558. doi: 10.1016/j.hrthm.2009.12.006.
- 7. Sharma S, Drezner JA, Baggish A. International recommendations for electrocardiographic interpretation in athletes. Eur Heart J. 2018. 39(16): 1466–1480. doi: 10.1093/eurheartj/ehw631.
- 8. Ali A, Butt N, Sheikh AS. Early repolarization syndrome: A cause of sudden cardiac death. World J Cardiol. 2015 Aug 26; 7(8): 466–475. doi: 10.4330/wjc.v7.i8.466.
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