Intervalo QT
O intervalo QT se mede desde o início do complexo QRS até o final da onda T. Representa a duração da sístole elétrica ventricular (despolarização e repolarização ventricular).
O intervalo QT inclui o intervalo QRS, o segmento ST e a onda T.
A onda U deve ser excluída ao medir o intervalo QT. A inclusão da onda U pode “aumentar” o QTc em 80-200 ms e precipitar desnecessariamente um diagnóstico de síndrome do QT longo 1.
QT corrigido
Artigo relacionado: Calculadora do intervalo QT corrigido.
O intervalo QT varia com a frequência cardíaca, diminui com frequências cardíacas rápidas e aumenta com frequências lentas. Por isso, para determinar si é normal ou não, devemos realizar uma adequada correção pela frequências (QT corrigido ou QTc).
Intervalo QT normal: intervalo QT 380 ms, intervalo QT corrigido 425 ms com FC de 75 bpm.
Das muitas fórmulas propostas para descrever esta relação, a mais extesamente usada para corrigir pela frequência cardíaca é a fórmula de Bazett 2. Mas com esta fórmula existe uma hipercorreção com altas frequências cardíacas e uma hipocorreção com baixas frequências cardíacas 3.
Fórmulas usadas para estimar o QTc
- 1. Fórmula de Bazett 4: QTc = QT / √RR.
- 2. Fórmula de Fridericia 5: QTc = QT / RR1/3
- 3. Fórmula de Framingham 6: QTc = QT + 0.154 (1−RR)
A correção de Fredericia e a de Framingham podem ter uma correção mais uniforme em um maior intervalo de frequência cardíaca. Quando a frequência cardíaca é particularmente rápida ou lenta as correções de Fredericia ou de Framingham são mais precisas y deveriam ser usadas 2.
Mais informações em: Calculadora do intervalo QT corrigido.
Prolongamento do intervalo QT
O intervalo QT é patológico si é maior de 440 ms em homens e 460 ms em mulheres.
O intervalo QR longo se associa a um maior risco de arritmias cardíacas devido a que pode provocar pós-despolarizações precoces provocando uma torsades de pointes que pode conduzir a fibrilação ventricular e à morte súbita 3.
Intervalo QT longo: intervalo QT 480 ms, intervalo QT corrigido 537 ms com FC de 75 bpm.
O prolongamento do intervalo QT pode ser causado por diferentes alterações genéticas ou pela síndrome de QT longo adquirida. O QT longo adquirido é mais prevalente que a forma congênita 7.
Causas de QT longo
- Síndrome de QT longo congênita (SQTL):
- Síndrome de Romano-Ward.
- Síndrome de Jervell, Lange-Nielsen.
- QT longo adquirido:
Os medicamentos são uma das causas mais frequentes de prolongamento adquirido do intervalo QT 7.
Se descrevem mais de 50 fármacos que provocam prolongamento do intervalo QT. Alguns são medicamentos comuns, por exemplo: anti-histamínicos e descongestionantes, diuréticos, antibióticos, antiparasitários, como a hidroxicloroquina, antiarrítmicos, antidepressivos e antipsicóticos, medicamentos para o colesterol e para a diabetes.
Intervalo QT curto
Um intervalo QTc menor de 350 ms é geralmente aceitado como patológico.
Intervalo QT Curto: Intervalo QT 280 ms, Intervalo QT corrigido 313 ms com FC de 75 bpm.
Causas de QT Curto
Síndrome de QT curto congénita (SQTC)
Gussak et al. (2000) foram os primeiros a descriver o intervalo QT curto como uma nova síndrome clínica 8.
A síndrome de QT curto (SQTC) é uma canalopatia cardíaca hereditária caracterizada por um intervalo QT anormalmente curto e um risco aumentado de arritmias atriais e ventriculares.
O diagnóstico é baseado na avaliação dos sintomas (síncope ou parada cardíaca), a história familiar e os achados eletrocardiográficos. O cardioversor desfibrilador implantável (CDI) é a terapia de primeira linha em pacientes com esta doença.
Hipercalcemia
O intervalo QTc é inversamente proporcional aos níveis séricos de cálcio até valores de 16 mg/dL. Na hipercalcemia, o segmento ST está encurtado e a duração do QTc está disminuída.
Hipercalemia
Nos pacientes com hipercalemia leve ou moderada o intervalo QT pode estar encurtado com um aumento progressivo da amplitude da onda T.
Digoxina
O tratamento con digoxina frequentemente causa alterações no segmento ST e na onda T. Também pode provocar um intervalo QT curto e prolongamento do intervalo PR.
Outras causas
Um intervalo QT mais curto do que é habitual também pode ser observado em pacientes com síndrome da fadiga crónica ou em resposta à atropina, catecolaminas e a hipertermia 10.
Esperamos que este artigo sobre o intervalo QT lhe seja útil. Se você clica em Próximo, poderá ler mais sobre a análise do eixo elétrico.
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Referências
- 1. Surawicz B, Knilans TK. Chou’s electrocardiography in clinical practice, 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2008.
- 2. Vandenberk B, Vandael E. Which QT Correction Formulae to Use for QT Monitoring? JAHA 2016; 5: e003264. doi: 10.1161/JAHA.116.003264
- 3. Johnson JN, Ackerman MJ. QTc: how long is too long? Br J Sports Med. 2009; 43(9): 657–662. doi: 10.1136/bjsm.2008.054734
- 4. Bazett HC. An analysis of the time relations of the electrocardiograms. Heart. 1920; 7: 353–370. doi: 10.1111/j.1542-474X.1997.tb00325.x
- 5. Fridericia LS. Die systolendauer im elektrokardiogramm bei normalen menschen und bei herzkranken. Acta Med Scand. 1920; 53: 469–486. doi: https://doi.org/10.1046/j.1542-474X.2003.08413.x
- 6. Sagie A, Larson MG, Goldberg RJ et al. An improved method for adjusting the QT interval for heart rate (the Framingham Heart Study). Am J Cardiol. 1992; 70: 797–801. doi: 10.1016/0002-9149(92)90562-d
- 7. Van Noord Ch, Eijgelsheim M, Stricker BHCh. Drug- and non-drug-associated QT interval prolongation. Br J Clin Pharmacol. 2010; 70(1): 16–23. doi: 10.1111/j.1365-2125.2010.03660.x
- 8. Gussak I, Brugada P, Brugada J, et al. Idiopathic short QT interval: a new clinical syndrome? Cardiology. 2000; 94: 99–102. doi: 10.1159/000047299
- 9. Rudic B, Schimpf R, Borggrefe M. Short QT Syndrome – Review of Diagnosis and Treatment. Arrhythm Electrophysiol Rev. 2014; 3(2): 76–79. doi: 10.15420/aer.2014.3.2.76
- 10. Bjerregaard P, Nallapaneni H, Gussak I. Short QT interval in clinical practice. Journal of Electrocardiology. 2010; 43(5): 390-395. doi: 10.1016/j.jelectrocard.2010.06.004
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